A música urbana, sobretudo o rap, sempre oferece uma saída para o escoamento de afetos, sejam eles negativos ou positivos. A batida, o ritmo e a poesia, vem moldando os caminhos de jovens negros brasileiros desde o desembarque do hip hop por aqui em meados dos anos 1980. Abraçando essas possibilidades para criar novas páginas em sua vida, Eddy Jr. lança seu primeiro álbum, intitulado “Bom Moço”. Galgado na sonoridade trap, o trabalho chegou em todas as plataformas digitais nesta quinta-feira, 28 de novembro,junto com um documentário em que o multiartista reflete os últimos acontecimentos em sua vida.
Eddy Jr. se tornou um fenômeno do humor, ganhou milhões de seguidores em suas redes sociais. Com a ascensão, vieram os confrontos comuns a todo jovem negro que passa a ocupar espaços antes só “destinados” à pessoas brancas. O notório caso de racismo sofrido pelo artista em 2022 causou impactos diretos em sua vida, sua saúde mental, sua carreira. Parte do ocorrido foi canalizado em seu primeiro EP, “Meus Contos”, de 2022, e agora o rapper quer virar a página e contar novas histórias, aproveitar um tempo de mais leveza, trazendo diversidade narrativa ao universo musical que ele propõe.
“Meu primeiro canal era Humor&Música. Meu sonho sempre foi seguir o caminho musical, mas a parte humorística começou a ganhar um tamanho enorme, começou a me dar visibilidade e dinheiro. E eu também sou bom nisso, mas depois de tudo, eu refleti bastante e acho que é hora de mergulhar de vez nesse caminho, de viver meu sonho, sabe? As pessoas que me acompanham desde o começo sabem que muitos dos conteúdos que eu fazia tinham a música presente e agora quero que isso seja o principal na minha carreira”, conta Eddy.
O retorno de Eddy Jr. com um disco não é a morte do artista como ator. Em 2025, ele será protagonista de uma série com dez episódios da TNT/Warner. “Eu quero me desvencilhar dessa imagem de um cara que é apenas humorista e o lançamento do álbum faz parte disso. Na série, que é de comédia, eu sou o protagonista, então seria complicado para as pessoas dissociarem as coisas. Ela estrearia agora em novembro, mas acabou sendo adiada, então acho que as pessoas terão esse tempo para me consumir apenas como músico”, reflete.
Se engana quem pensa que “Bom Moço” nasce de uma aventura descompromissada de um influenciador que quer bancar o rapper. Criado em igrejas, aprendendo a tocar instrumentos desde cedo, sobretudo bateria e órgão, Eddy vem refinando o álbum há dois anos, introduzindo camadas sonoras que buscam distanciar as seis faixas do disco o máximo possível de uma produção pasteurizada.
A produção inteira do disco ficou a cargo do próprio Eddy, que foi estudar os meandros das técnicas de estúdio para entregar um trabalho o mais profissional possível.
O uso excessivo de autotune, característico do trap, é abandonado para que a voz natural do cantor se mostre, com o resultado se aproximando mais do que era feito no boom bap, escolha feita de forma consciente pelo artista que ouvia muito Post Malone e Drake enquanto ainda era uma revelação em ascensão do humor.
A leveza trazida em faixas como “Celeiro”, “Bom Moço” e “Quem” contrastam com a forma com que Eddy estava conduzindo suas redes sociais. Postagens soturnas, desabafos e choros, agradecimentos ao apoio dos fãs, fizeram parte da rotina recente do influenciador. Essa intensidade de sentimentos serviu para preparar o público para a nova persona do compositor.
“Esse ano eu me privei de muita coisa para me preparar para esse lançamento. Pode ser que eu ainda faça humor, mas eu quero viver da arte da música, quero dar atenção para esse sonho”, reflete o cantor que se emociona no documentário sobre as decisões recentes da carreira. “Gosto de fazer as pessoas rirem. Decidir parar de fazer humor não é uma decisão fácil pra mim, mas é o que preciso fazer agora”, conclui.