A evolução das redes sociais desde o surgimento e popularização da internet passou por diversas transformações: de sistemas baseados inteiramente em textos longos ou acervo de fotos, como os blogs pessoais e Fotolog, passamos a buscar plataformas mais centralizadas e otimizadas para o uso cotidiano, com conteúdo rápido, algoritmos inteligentes, e que exigem menos atenção. É a partir dessa filosofia de uso que plataformas de microblog surgiram e se tornaram as principais redes utilizadas pelos usuários: Instagram, Tumblr e claro, o Twitter, entram nessa categoria. O Twitter é, em especial, reconhecido por seu grande alcance e diversidade – é possível encontrar as publicações oficiais de presidentes, CEOs de grandes empresas, pesquisadores e cientistas, colegas da faculdade, fontes de notícias em tempo real, memes, instituições e tantas outras pessoas que a sensação é que todo mundo possui um perfil na plataforma, e as publicações curtas impedem que isso saia completamente do controle.
No entanto, o sucesso gigantesco do Twitter não significa que suas bases sejam completamente sólidas. A plataforma sofre desde sua incepção com dificuldades em criar um modelo lucrativo de operação, instabilidades técnicas, e diversos desafios sociais relacionados com as notícias falsas, manipulação política, bullying digital, perseguição, e outros problemas que ainda não possuem uma boa solução e invadem o mundo das redes sociais. Esse conjunto de problemas afastou parte da comunidade da plataforma, mas foi a compra pelo bilionário norte-americano Elon Musk que transformou completamente os dados do Twitter, como demonstra a ExpressVPN. Polêmico por seu envolvimento em diversas outras empresas, atitudes e comentários controversos, e estilo de gerência considerado instável e extremo, Elon Musk adquiriu a rede social em Outubro de 2022 e implementou diversas mudanças como marca de verificação paga por assinatura mensal, demissão em massa de times antigos, fim dos aplicativos de terceiros, e repaginação das regras que conduzem as publicações.
Diversos usuários decidiram abandonar a plataforma e muitas alternativas foram discutidas como candidatas a receber o fluxo de usuários, como o Koo e Hive Social, porém, a rede que mais atraiu a atenção do público – especialmente de jornalistas e entusiastas da área de TI – foi o Mastodon. Com a promessa de um funcionamento idêntico ao Twitter, mas completamente descentralizado e livre, o Mastodon rapidamente cresceu no Brasil e no mundo. Mas será que em 2023 a rede social conseguirá manter seu sucesso?
Como funciona o Mastodon
O funcionamento do Mastodon é bastante semelhante ao do Twitter. Os usuários podem criar uma conta, seguir outros usuários e postar mensagens (chamadas de “toots”) que são exibidas em uma linha do tempo. O Mastodon também possui recursos como hashtags, mensagens diretas e um limite de caracteres para os toots, preservando a característica mais marcante do Twitter e permitindo seu uso de forma mais facilitada no cotidiano, especialmente para acompanhar eventos ou acontecimentos em tempo real.
No entanto, a principal diferença entre o Mastodon e o Twitter é que a nova rede social é completamente descentralizada. Isso significa que, em vez de haver um único servidor central que controla todos os dados e informações da rede e pode ser modificado por seus proprietários, como é o caso do Twitter e a chegada do Elon Musk, no Mastodon existem muitos servidores independentes que se comunicam uns com os outros criados por qualquer pessoa utilizando o código-fonte do Mastodon e sua rede de interconexão. Cada servidor é chamado de “instância” e tem seu próprio conjunto de regras e regulamentos, isso significa que uma instância pode proibir assuntos relativos à política enquanto outra pode ser inteiramente dedicada ao tema, cabe aos administradores de cada servidor a definição e execução das regras.
O sistema descentralizado também ajuda a combater problemas como ataques hacker que poderiam tirar o site do ar, roubar os dados de todos os usuários, ou manipular por completo as mensagens no site. No entanto, ao criar uma conta em uma instância o usuário está fornecendo informações pessoais aos criadores do servidor, portanto, é altamente recomendável escolher apenas instâncias reconhecidas pela comunidade e com confiança.
Desvantagens atrapalham o crescimento da rede
As mesmas características que trazem vantagens ao Mastodon quando comparado ao Twitter também resultam em suas principais desvantagens, e explicam sua baixa retenção de usuários. A plataforma descentralizada é um ponto positivo para a privacidade e liberdade, mas pode ser extremamente confusa para novos usuários e pessoas pouco familiares com a tecnologia – instâncias diferentes podem exigir a criação de perfis diferentes, como se fossem redes sociais distintas, e as regras completamente diferentes podem resultar em frustrações e banimentos. Os aplicativos nativos do Mastodon também são menos completos e otimizados quando comparados ao Twitter, e embora muitas pessoas utilizem a rede, ainda não há comparação entre o número de personalidades famosas e relevantes disponíveis no Twitter e os usuários encontrados no Mastodon. Os desenvolvedores e a comunidade estão em busca constante de correções para estes problemas, incluindo uma rede que permite a comunicação entre instâncias distintas de forma mais abrangente, evitando o conflito entre múltiplos perfis.
O Mastodon chegou a superar a casa dos dois milhões de usuários ao fim de 2022, mas infelizmente, a média de usuários ativos nas instâncias mais populares no Brasil está próxima
aos 200, fato que também é explicado por parte dos servidores recusando a criação de novos perfis como resposta ao grande fluxo de usuários do Twitter, evitando a desordem mas, ao mesmo tempo, limitando significativamente a adoção da rede social no país. De forma semelhante, a plataforma fechada Koo que oferecia recursos similares e recebeu grande número de usuários brasileiros também falhou em reter a maior parte dos novos curiosos, que agora já retornaram ao Twitter.
Em 2023 é possível afirmar que redes como o Mastodon não foram capazes de capturar os usuários e substituir o Twitter, no entanto, as ideias por trás da rede ensinaram lições valiosas que podem ser aprimoradas no futuro e, com sorte, transformar a maneira como encaramos as plataformas digitais, buscando maior controle de nossos dados e menor interferência de figuras centrais como grandes CEOs.