O cantor e compositor Lindomar Castilho morreu neste sábado (20), aos 85 anos. Um dos nomes mais populares da música romântica brasileira nas décadas de 1960 e 1970, ele ficou conhecido como o “Rei do Bolero” e foi responsável por milhões de discos vendidos em todo o país. A morte foi anunciada por sua filha, Lili de Grammont, por meio das redes sociais.
Em publicação no Instagram, Lili fez um pronunciamento marcado por reflexão e complexidade emocional. “Se eu perdoei? Essa resposta não é simples como um sim ou não, ela envolve tudo e todas as camadas das dores e delícias de ser, um ser complexo e em evolução. Diante de tudo isso, desejo que a alma dele se cure, que sua masculinidade tóxica tenha sido transformada”, escreveu.
Nascido em 21 de janeiro de 1940, em Rio Verde, no interior de Goiás, Lindomar Castilho chegou a cursar Direito e trabalhou como escrivão de polícia antes de ingressar definitivamente na música. No início dos anos 1960, foi descoberto pelo produtor Diogo Mulero, responsável por orientá-lo artisticamente e sugerir o nome artístico. Em 1962, lançou seu primeiro LP, Canções que Não Se Esquecem, com interpretações de clássicos consagrados por Vicente Celestino.
Ao longo das décadas de 1960 e 1970, Lindomar consolidou-se como um dos artistas mais populares do Brasil, com repertório marcado por boleros, sambas-canção e músicas de forte apelo sentimental. A interpretação intensa, a voz potente e a performance dramática conquistaram um público fiel. Entre seus maiores sucessos estão “Você É Doida Demais”, bolero lançado em 1973 em parceria com Ronaldo Adriano — que mais tarde se tornaria tema de abertura do seriado Os Normais —, além de “Eu Amo a Sua Mãe”, “Tudo Tem a Ver” e “Chamarada”.
Apesar do sucesso artístico, a trajetória de Lindomar Castilho foi profundamente marcada por um episódio criminal que chocou o país. Em 1979, ele se casou com a cantora Eliane de Grammont, com quem teve uma filha. O relacionamento foi conturbado e durou pouco mais de um ano, marcado por crises de ciúme, agressividade e problemas com alcoolismo. Após a separação, Eliane retomou a carreira musical e passou a se apresentar em casas noturnas de São Paulo.
Em 30 de março de 1981, Lindomar invadiu uma boate onde a ex-esposa se apresentava e atirou cinco vezes contra ela, matando-a. Um dos disparos também feriu o violonista Carlos Randall, primo do cantor. Preso em flagrante, Lindomar foi condenado em 1984 a 12 anos e dois meses de prisão por homicídio.
O assassinato de Eliane de Grammont teve enorme repercussão nacional e tornou-se um marco na discussão sobre violência contra a mulher no Brasil. O caso contribuiu para a criação, em São Paulo, da primeira Delegacia de Defesa da Mulher, em 1985, e do centro de apoio Casa Eliane de Grammont, inaugurado em 1990 em homenagem à cantora.
Lindomar cumpriu parte da pena em regime semiaberto e obteve liberdade definitiva em 1996. Durante o período de encarceramento, chegou a gravar o álbum Muralhas da Solidão, produzido dentro do presídio em Goiânia. Após deixar a prisão, voltou pontualmente aos estúdios e lançou, em 2000, o disco Lindomar Castilho ao Vivo, revisitando sucessos da carreira. A tentativa de retorno, no entanto, não alcançou grande repercussão, e o estigma do crime impediu uma retomada plena de sua trajetória artística.
Nos últimos anos, Lindomar Castilho vivia recluso em Goiânia, afastado dos palcos e da mídia. Sua morte encerra a trajetória de um artista que marcou gerações com canções românticas, mas cuja história permanece indissociável de um dos episódios mais trágicos da música brasileira.