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Plantão Cinéfilo: Disparidade salarial entre mulheres ainda ganham menos que homens em Hollywood

Por Miro Malacrida |

Plantão Cinéfilo: Disparidade salarial entre mulheres ainda ganham menos que homens em Hollywood
Jennifer Lawrence e Leonardo DiCaprio em “Não Olhe Para Cima”. Foto: Divulgação/Netflix

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As mulheres possuem um papel determinante nas sociedades ocidentais. Em meio a campanhas de igualdade, Hollywood ainda escancara uma realidade triste: a diferença salarial entre homens e mulheres. Apesar de suas personagens marcantes, estrelas ainda lidam com a diferença de vencimentos por suas participações em filmes dos maiores estúdios do mundo.

A conta não é certa, mas há estimativas que a distinção entre salários chegue a números próximos de 30% em relação aos pagamentos a atores homens. E apesar dos constantes esforços de equidade, os estúdios ainda continuam promovendo essa discrepante realidade.

Jennifer Lawrence, que vem tendo seu nome atrelado a grandes produções nos cinemas, também é foco do caso. Em 2014, documentos vazados da produtora Sony escancararam que a atriz recebeu 10 vezes menos que seus colegas de elenco no longa “Trapaça”. O filme a levou a concorrer ao Oscar como “Melhor Atriz” e foi o grande sucesso nas premiações do ano.

Jennifer Lawrence e elenco em “A Trapaça”. Foto: Divulgação

Além disso, em 2021, a profissional revelou que ganhou menos que Leonardo DiCaprio para estrelar o longa “Não Olhe Para Cima”, sucesso da Netflix.

Em entrevista à Vanity Fair, Jennifer revelou que a diferença salarial seria derivada do retorno do investimento para os estúdios. Apesar disso, revelou se sentir desconfortável com a situação.

“Olha, Leo traz mais bilheteria do que eu. Estou extremamente feliz e feliz com o meu acordo”, contou a atriz à revista. “Mas é extremamente desconfortável perguntar sobre a igualdade de remuneração. E se você questiona algo que parece desigual, dizem que não é disparidade de gênero, mas eles não podem dizer o que é exatamente”, completou.

Parceira de Jennifer em “Trapaça”, Amy Adams também amargurou um valor menor em seus vencimentos. A atriz recebeu nada menos que a metade do que foi pago para Christian Bale e Bradley Cooper em papeis semelhantes.

Sendo assim, segundo o tabloide britânico The Gardian, a disparidade salarial chega a alcançar valores de 1 milhão de dólares em relação a cada astro do elenco masculino para o feminino.

A informação foi divulgada após o Governo Britânico obrigar estúdios de Hollywood com filiais no Reino Unido a divulgarem seus vencimentos salariais.

O poder delas!

Apesar da triste realidade, o papel das mulheres no cinema vem crescendo vertiginosamente. Não apenas em frente às telas, mas nos comandos de diversas produções cinematográficas.

Novas levas de profissionais se dividem em funções antes vistas como “masculinas”, como a de direção e produção, o que vem rendendo destaques.

Apesar disso, é notória a luta diária para equiparação em Hollywood. Não apenas para espaço e salários, mas também reconhecimento. Por esse motivo, diversas profissionais têm liderado movimentos que coloquem em xeque essa diferença.

Nesse contexto surgiu a Time’s Up Pay, organização liderada por mulheres e que visa a equiparação salarial entre homens e mulheres. Dessa forma, com apoio de grandes nomes como Jennifer Garner, Natalie Portman, Uzo Aduba, Jessica Chastain e Eva Longoria, a ONG vem colhendo frutos de sua luta.

Em 2018, por exemplo, a HBO, um dos maiores estúdios de cinema do mundo, decretou o fim da diferença de salários entre atrizes e atores em suas produções. A empreitada foi liderada por Reese Witherspoon, protagonista e produtora da série “Little Fires Everywhere”.

Casey Blogs, executivo da HBO, confirmou a mudança na política da emissora em entrevista ao “The Hollywood Reporter”: “Nós estudamos todos os nossos shows e acabamos de finalizar o processo no qual damos por encerrada a disparidade de salários nas nossas produções. Essa foi uma das consequências do movimento e de conversas que tivemos com a Reese”. “Quando você cria um programa, as pessoas vêm com diferentes níveis de experiências e talvez algumas tenham ganhado prêmios ou algo para deixá-las em evidência. Porém, quando você chega à segunda ou terceira temporada e é um sucesso, é muito difícil justificar a diferença salarial”.

Apesar das mudanças, ainda há muito o que acontecer. Grandes premiações como o Oscar vem sendo pressionadas a fim de promover uma maior valorização do papel feminino no cinema. O clamor foi impulsionado por Patrícia Arquette em seu discurso na cerimônia em 2015, quando venceu a estatueta de “Melhor Atriz” por “Boyhood”.

Patrícia Arquette em “Boyhood”. Foto: Reprodução

“A todas as mulheres que deram à luz, que pagam seus impostos e que são cidadãs desta nação, lutamos pelos direitos de todos os demais. Já é hora de termos de uma vez por todas o mesmo salário (dos homens) e os mesmos direitos para as mulheres dos Estados Unidos da América”, disse a atriz.

Apresentada por três mulheres em 2022:  a comediante Wanda Sykes e as atrizes Amy Schumer e Regina Hall, o Oscar tem um longo e passado de não reconhecimento de mulheres em papéis fora das categorias femininas. Em mais de 100 anos de premiação, apenas 8 mulheres levaram para casa o prêmio de “Melhor Diretora”. Neste ano, a diretora neozelandesa Jane Campion, de “O Ataque dos Cães”, levou para casa a estatueta na categoria máxima de direção, obtendo destaque numa edição histórica do prêmio.

Pelo longa, Jane também coleciona outros prêmios: BAFTA – Melhor Filme, Melhor Direção – Melhor Roteiro Adaptado; Globo de Ouro – Melhor Diretor; Critic’s Choice Awards – Melhor Diretor; Directors Guild of America Award – Melhor Diretor de Filme; além da Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza.