Um dos casos mais insólitos da Justiça alagoana ganhou um desfecho surpreendente quase três décadas após o início do processo. Um homem acusado de homicídio em 1998 foi absolvido em 26 de setembro de 2025, depois que a suposta vítima, considerada morta desde 1997, apareceu viva durante uma audiência em Maceió.
O caso foi conduzido pelo juiz José Eduardo Nobre, da 8ª Vara Criminal da Capital, que concedeu a absolvição sumária após constatar que Marcelo Lopes da Silva, tido como morto há 28 anos, estava vivo e saudável. “Não há prova da materialidade do crime de homicídio, uma vez que a suposta vítima encontra-se viva”, destacou o magistrado na decisão. O Ministério Público de Alagoas concordou com a absolvição.
Um crime que nunca existiu
O processo teve início em 1998, quando o réu foi denunciado pelo Ministério Público sob acusação de ter assassinado Marcelo numa emboscada na saída de uma danceteria no bairro do Tabuleiro do Martins, em Maceió. A acusação se baseava em um corpo encontrado na época, que foi erroneamente identificado como sendo de Marcelo — com direito a laudo cadavérico e reconhecimento fotográfico feito por um irmão da suposta vítima.
O caso permaneceu sem grandes avanços por anos. Foi apenas em agosto de 2025 que o acusado acabou preso e, durante a audiência de custódia, afirmou algo inesperado: que Marcelo estava vivo.
A princípio, a alegação parecia improvável. Mas, após diligências realizadas em bancos de dados, as autoridades confirmaram que o homem dado como morto estava, de fato, vivo. Em setembro, ele compareceu pessoalmente à audiência de instrução e explicou o que aconteceu.
Mudança de vida e erro judicial
Marcelo relatou que, em 1997, simplesmente se mudou para o interior de Pernambuco, onde passou a viver com uma irmã e trabalhar no corte de cana. Ele afirmou que não manteve contato com a família, o que alimentou a crença de que havia sido assassinado. Anos depois, ao retornar a Maceió, chegou a procurar uma delegacia para esclarecer o engano, mas a informação nunca foi incorporada ao processo judicial.
Com a ausência de comunicação formal, o processo permaneceu arquivado e sem resolução por quase 30 anos — até que a prisão do acusado reacendeu a investigação.
Desfecho inusitado
Com base nos novos fatos e no depoimento do próprio Marcelo, o juiz concluiu que o crime jamais existiu. O erro no laudo cadavérico, que identificou erroneamente outra pessoa como sendo Marcelo, foi apontado como a origem da tragédia judicial.
“Resta evidente que o laudo padece de erro grave, ao atestar a morte de outra pessoa como se fosse a vítima”, escreveu o juiz na sentença.
O caso encerra um capítulo surreal do Judiciário alagoano e levanta questionamentos sobre falhas históricas em investigações criminais, especialmente em um tempo anterior à digitalização de dados e maior integração entre órgãos públicos.
Agora, com a absolvição, o réu — que passou quase três décadas com a sombra de um crime que nunca cometeu — finalmente vê o fim de um pesadelo judicial.




















































