Música

Daniel Gonzaga lança disco “Maestrias”, que estabelece um diálogo antropológico entre gerações da música nordestina

Por Diego Cartaxo |

Daniel Gonzaga lança disco “Maestrias”, que estabelece um diálogo antropológico entre gerações da música nordestina
Foto: @cesararaujofotografia

O músico e compositor Daniel Gonzaga lança nesta sexta-feira (17/5) o álbum “Maestrias”, no qual reúne parcerias com grandes nomes da música brasileira oriundos da região nordeste. O lançamento do disco será celebrado no mesmo dia, a partir das 22h, em show de Daniel com sua banda no Canto da Ema, em São Paulo.

Nascido e criado no Rio de Janeiro, ainda menino, Daniel Gonzaga fez uma viagem que mudaria sua vida para sempre. Ele tinha apenas sete anos quando conheceu Exú (PE), no pé da Serra do Araripe, e viu se materializar em paisagem um mundo sonoro que jamais o abandonaria. “Trago Exú tatuado no braço. Vou o máximo que posso e tenho muitos amigos lá. Sou criado a leite com pera na Tijuca (bairro carioca), então quando fui pela primeira vez tudo mudou em minha vida. O sertão, o cheiro, os incômodos, o modo de ver as coisas… E o Exú não foge a essa regra. É uma cidade que eu gosto muito, foi onde vi que existiam outros vários tipos de música”, conta o cantor e compositor de 49 anos.

De certa forma, é essa bagagem da caminhada de um vida inteira, em que o sertão é vereda obrigatória, que agora ele busca mostrar no álbum “Maestrias”, como um caixeiro viajante que chegasse com uma mala repleta de preciosidades. “O disco é o fruto do aprendizado de uma caminhada por um Brasil que talvez não exista mais. É sobre matrizes nordestinas. Sobre mestres… O intuito é estabelecer um diálogo até antropológico sobre o que vem acontecendo nesse universo do forró e da música nordestina como um todo. A chegada dos jovens, a mudança da percepção das culturas do Brasil e do próprio país…”, elabora o artista.

Para cumprir esse projeto, Daniel fez uma verdadeira curadoria de nomes que têm uma legitimidade para embasar o conceito do disco (as maestrias), e que participam nas composições, cantando e tocando. Estão no disco tanto nomes mais conhecidos, como Fagner e Zeca Baleiro, quanto realezas mais raras, como Anastácia e Quinteto Violado. Estão também mestres da tradição que só ouvidos mais especializados saberiam reconhecer, como Nando Cordel e Xico Bezerra, e, ainda, novos talentos que prometem levar adiante essa história, como Natascha Falcão, indicada ao Grammy Latino 2023 na categoria ‘Revelação’, e o flautista Gabriel Rezende, seu afilhado de apenas 12 anos, que dá a primeira nota do álbum, em “O Tempo que Parou”, da qual também participa Cezzinha, cantor e sanfoneiro de Recife (PE). “A ideia é trazer à baila uma cena. Esse disco não é sobre mim, é pra eles”, explica Daniel.

É a rainha do forró, porém, a parceira mais presente no trabalho. Com Anastácia, Daniel compôs quatro das 13 canções do disco, e elas são apenas um terço do que já criaram juntos. No álbum, além das composições, ela também canta com Daniel “Um chamego igualzinho ao seu”, junto a outro membro da realeza do forró, o paraibano Flávio José. “Me aproximei da Anastácia quando comecei a namorar a Carolina (Albuquerque, neta de Anastácia e produtora do disco), e vim pra São Paulo. Mas eu ficava meio assim, porque a Anastácia sempre foi muito falada lá em casa, como amiga do meu avô (Luiz Gonzaga), mas comigo não tinha muito contato. Quando comecei a mandar algumas coisas que escrevia pra ela, ela foi meio secona (risos). Mas hoje ela deixou de ser a avó da Carolina e virou uma amiga e parceira”, conta o músico.

Outra participação que mexe fundo nos sentimentos de Daniel foi a do Quinteto Violado, grupo recifense criado na década de 1970, com quem gravou “Vaqueirama”, um aboio cantado feito sob o feitiço de uma tradicional missa do vaqueiro, em Serrita (PE). “Ao falar em Nordeste, na música, a primeira coisa que me vem na cabeça são aquelas violas do Quinteto Violado. Eu fiz a música, mandei, e eles toparam. Quando eu recebi foi aquele impacto… Eu nunca na minha vida de garoto ia imaginar que o Quinteto Violado ia gravar, com a sonoridade deles, uma música minha. Ficou bonito demais!”, lembra, dizendo que a emoção o deixou em lágrimas.

Talvez daí a ideia de lançar o álbum completo, de uma só vez, ao invés de ir lançando singles primeiro, como costuma acontecer no mercado musical atualmente. “Quando eu faço um álbum, eu amo concepções, cresci ouvindo Pink Floyd, Quinteto Violado, são caminhos mentais. O álbum tem um conceito, uma dinâmica. O disco causa um impacto dessa forma”, explica Daniel, que também assina a produção do trabalho. Agora, a ideia é tentar gravar um show com todos os artistas reunidos e também lançá-lo em formato de vinil.

GONZAGUIANOS
Além do disco “Maestrias”, em breve Daniel Gonzaga estará à frente de outra novidade, o projeto “Gonzaguianos”. Trata-se de uma série que irá atrás de fãs fervorosos do seu avô, Luiz Gonzaga, o mítico sanfoneiro, “Rei do Baião”, e o primeiro artista brasileiro a fazer uma turnê pelo país.

Serviço
Show de lançamento do álbum “Maestrias”, de Daniel Gonzaga, no Canto da Ema (Av. Brigadeiro Faria Lima 364 – Pinheiros – SP). Abertura da Casa: 22h00 | Início do Show: 23h45. Ingressos: 44$ Inteira | 22$ Meia (ver lei da meia entrada), à venda pelo Sympla.