Nesta quinta (05), após quase 16 anos de seu último programa, o “Linha Direta” volta ao ar na Globo com a sua formação clássica: reconstituindo casos que foram destaques na imprensa.
Porém, a atração que foi precursora do formato “true crime”, atualmente em alta no mercado audiovisual e nos podcasts, não foi bem vista pela emissora carioca no final dos anos 90.
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Inicialmente, a ideia de retomar o programa, que já havia sido apresentado em 1990 por Hélio Costa, foi do então diretor-geral do jornalismo da Globo na época, Evandro Carlos de Andrade, que fez um convite ao Marcelo Rezende, que foi um dos idealizadores junto com o Roberto Talma, responsável pela Central Globo de Produção na época.
“O [Carlos] Schroder [hoje diretor da Central Globo de Jornalismo, na época, o segundo homem, abaixo de Evandro Carlos de Andrade] me disse: “O Evandro mandou te perguntar se você quer fazer um programa na CGP [Central Globo de Produção, de shows e teledramaturgia]”. Encontrei-me com o [Roberto” Talma [um dos diretores da CGP”. Ele não tinha idéia do programa e começamos a construí-lo juntos. Daniel Filho sugeriu algo com procura e fotos” – disse Marcelo Rezende a Folha.
Nesse momento em que estava sendo elaborado o “Linha Direta”, foi ao ar no “Fantástico” o que seria o “piloto” (nome dado a um episódio-teste), com a entrevista do próprio Marcelo com o Manieco do Parque, em novembro de 1998. Esse momento rendeu diversas críticas negativas por parte da imprensa e da própria Globo, no qual a então vice-presidente da emissora época, Marluce Dias, achou “punk” demais.
“Mas o primeiro caso foi uma lambança que não teve tamanho. Fomos entrevistar o maníaco do parque. Editamos e levamos à direção da Globo. Dissemos que aquele poderia ser o formato. A Marluce [Dias da Silva, diretora-geral] quase enfarta, achou punk demais. Mas o Evandro mandou que tirássemos da edição umas maluquices para pôr no ar” – disse Marcelo.
“Na hora de editar, acabamos deixando do jeito que estava. Decidimos bancar. Botamos no ar e deu 53 de pico, às 23h. Foi um estrondo. Pensei: “Estou com a vida feita aqui dentro, ganhei o jogo”. Nunca tomei tanto esporro na vida. A imprensa quase me mata. Pedi demissão de tanta vergonha. Uma coisa é o entusiasmo e outra é depois que você reflete. É óbvio que a gente errou a edição. A Globo me deu férias e o projeto (do “Linha Direta”) micou” – complementou o jornalista falecido em 2017.
Porém, a Globo acabou voltando atrás no projeto após diversas derrotas na audiência às quintas para o Ratinho por quase ano. Para se ter uma ideia, em um desses confrontos, em março de 1998, a emissora carioca reagiu empurrando a novela das oito, “Por Amor”, pra começar quase às 21h (numa época em que começava entre 20h30 e 20h45) e terminar quase às 22h30.
“O Ratinho disparou, começou a dar 33, 34 de média, e a Globo, 20. A Marluce, então, pediu que voltássemos com o projeto. Fechamos a primeira idéia na casa do Talma, comendo dobradinha às 9h” – disse Marcelo Rezende.
Em maio de 1999, “Linha Direta” faz a sua estreia na TV após a novela das oito, “Suave Veneno”, pegando um horário que até então, por incrível que pareça, era do “Zorra Total”, que migra para os sábados. Em sua estreia, foram reconstituidos a morte de Paulo César Farias e o assassinato da estudante carioca Ana Carolina da Costa Lino, no Rio de Janeiro. O programa passa a ser um sucesso, chegando aos 40 pontos numa faixa que fica estacionado na casa dos 20 pontos.
Ainda para esta versão do programa, no qual foi o formato que o fez um fenômeno, Marcelo Rezende também se inspirou nos livros de Raymond Chandler e Dashiell Hammett e de diversos filmes noir e de Alfred Hitchcock.