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O Brasil possui uma das indústrias cinematográficas mais ativas e importantes de todo o mundo. Com grandes profissionais e empresas dedicadas ao segmento, é notório que venha o reconhecimento. Dessa forma, um dos maiores eventos do cinema mundial, o Festival de Cannes, na França, costuma reconhecer e premiar profissionais do país.
Há 10 anos, em 2012, o cinema brasileiro recebeu sua primeira grande notoriedade no evento. Com o mercado aquecido, produzindo cerca de 100 projetos anualmente, a indústria cinematográfica brasileira teve no evento seu grande e vindouro reconhecimento. Essa atitude, claro, alçou diversos profissionais ao estrelato internacional.
Na época, um dos maiores nomes do segmento no Brasil, o cineasta Cacá Diegues, responsável por grandes sucessos de público e crítica, como “Xica da Silva” (1976) e mais recentemente “Deus é Brasileiro” (2003), e precursor do Cinema Novo junto a outros grandes profissionais da área, como Glauber Rocha, recebeu em Cannes o reconhecimento pela obra.
Em entrevista à agência internacional AFP, o cineasta destacou o ótimo momento do cinema brasileiro: “O cinema brasileiro vive um momento fértil e de muita diversidade. Estamos produzindo quase cem filmes por ano e ocupando uma parte importante de nosso mercado”. Desde então, o Brasil é presença fixa na premiação.
Apesar de consecutivas indicações ao Palma de Ouro, o principal prêmio do festival, foi apenas em 1962, com o “Pagador de Promessas”, que o cineasta Anselmo Duarte trouxe ao Brasil o prêmio máximo principal.
Censurado no Brasil, “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles concorreu ao prêmio máximo em 2019, assim como “O Traidor”, de Marco Bellocchio. Apesar de sair de Cannes sem a estatueta principal, o longa estrelado pela premiada atriz Sonia Braga trouxe para o Brasil o “Prêmio do Juri”.
Novos talentos
Toda essa presença e relevância de nomes consagrados da indústria do cinema no Brasil em Cannes vem trazendo mais possibilidades aos profissionais. Um exemplo foi a recente participação de Lucas Vasconcelos, cineasta brasileiro e filho de Pedro Vasconcelos, diretor da TV Globo e responsável por grandes sucessos na TV, como a novela “Império”. Em 2021, o brasileiro teve seu filme exibido no Short Film Corner do festival de cinema francês.
“Nosso curta se chama ‘Nada de bom acontece depois dos 30’, é a história de um universo distópico em que as pessoas não morrem mais de velhice. Levando então, a superpopulação. O governo decide criar uma data de validade para os seres humanos, para o controle de população. Todo ser humano deverá obrigatoriamente morrer quando atingir a idade de 30 anos. O filme conta o ponto de vista de Noah, interpretado pelo talentoso Pedro Nercessian que questiona a ideologia governamental em que as pessoas devem morrer aos 30. O filme é uma crítica extrema ao controle absoluto do estado na sociedade”, explica Lucas à coluna.
De acordo com o cineasta, o convite para sua participação em um dos maiores festivais de cinema do mundo foi recebido com agrado, apesar de relatar disparidades culturais e de apoio público às artes.
“É sempre muito triste a comparação cultural entre dois países, principalmente quando se trata de um país como o Brasil, que tem uma cultura tão rica. Mas hoje em dia vivemos em tempos que valorizamos nossas raízes, apenas! Quando na verdade é importante darmos vozes aos novos talentos e novos artistas dessa geração. Vivemos em um governo limitante que não enxerga futuro na cultura e prefere viver como um museu, ao valorizar apenas a cultura antiga que o país tem. Precisamos dos dois, precisamos da nossa cultura em história e o futuro dela também. Recebi uma carta do festival quando nosso filme foi aprovado, que dizia: ‘Sa présence au Festival de Cannes étant importante pour les relations culturelles et économiques entre nos deux pays.’ Em português a tradução é que a minha presença e a da equipe no festival era de extrema importância entre as relações culturais e econômicas entre Brasil e França. Isso demonstra um governo que se importa com o futuro de sua cultura e a importância social econômica dela.”, comenta o cineasta.
Integração cultural
É fato que a indústria do entretenimento se mescla com a cultural. Apesar de estarem no mesmo local de fala, apresentam projetos sobre óticas específicas, para públicos distintos. Profissionais brasileiros vem mostrando essa mescla em seus projetos apresentados e enaltecidos no festival internacional.
Em Cannes, pleiteia-se ainda o relacionamento. Reunindo alguns dos maiores nomes do cinema em todo o planeta, o requisitado festival recebe anualmente astros e estrelas consagrados, que deixam a prova que seus trabalhos são eternos.
Lucas destaca que a receptividade do Festival de Cannes com os profissionais brasileiros, independente de qual seja o prêmio onde as produções nacionais estejam concorrendo.
“O festival é extremamente receptivo a todos os artistas que apresentam seus trabalhos. Esteja você na competição oficial da palma de ouro, ou no estande de curtas-metragens como foi nosso caso. Os brasileiros se encontram bastante durante o festival para encontros, festas, palestras. E o mais legal é que você tem acesso ao festival juntamente de estrelas do cinema internacional. Dentro do palácio do festival tomei café ao lado de ninguém mais ninguém menos que Pedro Almodóvar. Encontrei Bong Joon Ho dentro da sala de cinema vendo um dos curtas em competição e por fim, vi os ganhadores do Oscar Steve McQueen e Spike Lee, na lojinha do festival. E eu tenho que achar isso completamente normal, pois eles são da minha área, eles são os que já estão adiante e os que eu me inspiro em um dia ser. Por fim, eu senti que os filmes e artistas brasileiros têm um carinho especial no festival de Cannes.”, completa o diretor.
Sendo assim, é fato que o cinema brasileiro segue cada vez mais forte em meio à indústria mundial.