Música

Psicanalista Manuela Xavier analisa novo clipe de Anitta: “‘Boys Don’t Cry’ é um deboche”

Psicanalista Manuela Xavier analisa novo clipe de Anitta: “‘Boys Don’t Cry’ é um deboche”
Foto: Reprodução

A música “Boys Don´t Cry” recentemente lançada por Anitta que já é apontada como um dos melhores lançamentos da semana e ainda entrou no Top 50 das rádios Pop do EUA, foi analisada pela Psicanalista e influenciadora Manuela Xavier, que é feminista, doutora em psicologia, ficou conhecida na internet por debater cultura, contemporaneidade e subjetividade privilegiando perspectivas de gênero. Em publicação em seu perfil no instagram, que conta com quase 350k de seguidores, entre eles a própria cantora Anitta e outras celebridades feministas, nesta terça-feira (1), a influenciadora destacou que a música lançada pela cantora não é sobre empoderamento.

Em sua análise a psicanalista destaca a percepção sobre o motivo de a cantora estar sempre correndo no clipe oficial da música. “Você achou que era uma música sobre empoderamento? Sobre fazer o boy de trouxa e firmar compromisso consigo mesma? Pois achou errado. Levei alguns dias para digerir o clipe e ainda não sei qual destino dar a ele. Anitta desnuda, como sempre, o mais íntimo de nós e convoca a uma solução que só encontraremos em coletivo: como é possível circularmos na gramática do amor? O clipe mostra uma mulher que encarna vários personagens e que está sempre correndo, fugindo. Há destino para mulheres que não correm? Já aprendemos a não correr atrás dos homens, agora estamos aprendendo a correr deles, que nos consomem, nos sobrecarregam, nos controlam, nos cerceiam “, destaca Manuela.

Em um trecho Manuela ainda faz alusão ao livro “Mulheres que Correm com os Lobos”, da psicanalista Clarissa Pinkola Estés, que convida mulheres a olhar para dentro, fazerem perguntas a si mesmas e desatar nós. “Eu, e acredito que Anitta também, corremos com os lobos”, frisa.

A psicanalista ainda destaca a importância de com cuidado para o peso que mulheres consideradas livres, as que desobedecem as regras ditadas pela sociedade, carregam. “Uma mulher poderosa é loba solitária inspirando a matilha, e é urgente olharmos para o peso que carregamos quando somos livres. Ser livre não significa ser leve. É doloroso, é cansativo, é custoso. A gente vê esse percurso no clipe em que Anitta encarna uma guerreira, uma mocinha romântica do século 20, uma noiva cadáver, outra em fuga, e também uma rainha do deserto. Em todos os papéis desempenhados, ela está ocupada demais, cansada demais, fugindo de quem quer lhe consumir, de quem quer mais um pedacinho”, comentou.

Ela ainda destaca que a música se trata de um deboche aos homens que historicamente tentam condicionar mulheres a um padrão de comportamento. “Homens não suportam mulheres poderosas. Eles vão tentar nos diminuir, nos calar, nos enfraquecer, eles vão nos levar à morte e à destruição até que a gente se dobre e caiba na gaveta deles. Que bom que a gente tem a Anitta que ensina a desobedecer. ‘Boys don’t cry’ é um deboche, uma subversão que dialoga com a nossa época de boys probleminha que nos assolam e nos sobrecarregam com suas lamúrias. É um recado libertador, como se Anitta dissesse: ‘querido, resolva seus BO na terapia, não sou sua psicóloga, eu to aqui só pra te agarrar!’. Custa caro demais subverter, desobedecer, fundar um percurso próprio”.

Em conclusão ainda deixa um recado para suas leitoras. “Sejam gentis com outras mulheres, não sejam centro de reabilitação de homem barbado, e corram com os lobos”.

Sobre Manuela Xavier

Psicanalista, feminista, doutora em Psicologia e produtora de conteúdo digital. Debate cultura, relacionamento, contemporaneidade e subjetividade privilegiando as perspectivas de gênero. Possui uma clínica exclusivamente feminina, desenvolve projetos que dão suporte psicológico e jurídico a mulheres vítimas de violência, além de realizar cursos e ciclos de leituras feministas que já formaram mais de 6 mil mulheres.