Um dos maiores clássicos não apenas dos estúdios Disney, mas do cinema em geral, finalmente ganhou um live-action. 20 anos após arrancar lágrimas de “baixinhos e grandinhos”, “O Rei Leão” teve sua adaptação para o cinema, mas já te adianto que poderiam ter caprichado mais.
Regado a nostalgia, o filme tinha tudo para refrescar na memória dos fãs a emoção de quem viveu a animação. Porém, de forma desleixada, a Disney deixou escapar das suas mãos a chance de fazer algo épico. Mesmo sendo dona das maiores bilheterias do cinema nos últimos anos, a gigante do showbiz vem sendo alimentada com cereal de super-heróis, que carregam nas costas o legado da magia do entretenimento. Foi-se aqui uma das suas melhores chances de mudar isso.
“O Rei Leão” peca sem economia em erros pequenos, que se acumulam ao longo da história e tornam a experiência uma espera arrastada de duas horas. Filas de banco parecem mais animadas.
Bizarramente a dublagem de um live-action sem atores reais em cena, fato que deveria entrar como primordial, é uma das falhas mais escrachadas. “Feito nas coxas” o sincronismo personagem x dublador deixa a desejar em 100% do filme. Parece uma TV com áudio atrasado. Se o problema fosse apenas esse… A escolha do elenco foi feita à dedo, é verdade, mas nem todos tem o dom de usar a voz para envolver quem está assistindo. Nem mesmo Beyoncé, uma das maiores vozes da música, consegue disfarçar o nível grotesco do trabalho. Aliás, é necessário dizer que uma aula de dublagem com mais afinco seria de suma importância para Queen B, cujo legado respeito, mas que não é possível fazer vistas grossas frente à falta de talento para dublar.
Donald Glover carrega a história nas costas. O protagonista de fato brilha, mas sem jogos de luz. É como se uma lâmpada incandescente de 40w estivesse acesa em uma sala com paredes pretas. Não há brilho suficiente no ambiente. Outro destaque é para Alfre Woodard, a veterana dá voz e alma à Sabari, a mãe de Simba, e no seu papel limitado no enredo, faz suas poucas aparições dignas de aplauso. São eles que dão profundidade à trama, e Alfre é quem vai te arrancar uma lágrima.
Como pontos fortes, porque não dizer fortíssimos, e que equilibram a balança, a realidade gráfica feita pela equipe do CGI é um passo largo rumo ao Oscar. Recriar o movimento dos animais de forma tão perfeita, faz deste um dos pontos de se “encher os olhos”.
Enfim, a saga da tragédia shakespeariana Hamlet, em que, não por acaso, o pai do protagonista também é morto pelo tio, é revivida aqui tal qual como a animação original. Porém mais uma vez a Disney deixa passar o fato gritante que no reino animal, Mufasa e Scar (pai do Simba) jamais seriam irmãos. Aqui no mundo real é extremamente improvável que mais de um macho por bando sobreviva até a idade adulta. Ou morrem em combate para determinar a liderança ou são expulsos da alcateia quando passam da adolescência. Erro já reconhecido pelo estúdio em 2017, mas repetido em 2019. Errar uma vez ok, permanecer no erro é burrice.
Savanas à parte, a trilha sonora dá um show de elementos africanos, e pode ser aqui onde o longa será explorado rumo ao Oscar. Curiosamente, “Spirit”, carro-chefe do álbum, é a faixa menos impactante do filme, deixando o posto para o clássico de Elton John, “Can You Feel The Love Tonight”, aqui revivida na voz de Beyoncé. Seria imprudência submeter a canção criada pela Sra. Carter para a Academia, uma vez que suas chances são pouquíssimas.
Em resumo a Disney fez um ótimo trabalho em plagiar sua própria obra, mas como diz o ditado “a cópia nunca será tão boa quanto à original”. É mais uma produção onde deixa claro que reviver suas animações clássicas no cinema não têm dado muito certo. Equilibrar a balança por erros e acertos pode ter funcionado no passado, mas nos dias de hoje é um tiro certeiro no pé com cicatrizes que nunca saram.