A cantora e compositora Blue está de volta com o single “Não Ando Muito Bem”, lançado no dia 7 de outubro, marcando uma nova fase em sua carreira. A faixa, que mistura pop alternativo, R&B e raízes do rock, foi escrita durante um período de afastamento da música e traz uma mensagem de vulnerabilidade, autoconhecimento e empatia.
Nascida em Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Blue é uma das vozes mais promissoras da cena independente. Além do EP Amor e Caos (2019), a artista já compôs para nomes como Glória Groove, Jade Baraldo, May & Karen e Lukinhas, consolidando sua identidade autoral e poética.
Em entrevista exclusiva, Blue fala sobre o processo criativo de “Não Ando Muito Bem”, a gravação do clipe em São Paulo, as dificuldades de ser artista independente e a emoção por financiar seu novo projeto com a venda dos famosos “Bluegadeiros” — os brigadeiros que se tornaram símbolo de sua trajetória.
“Não Ando Muito Bem” marca um recomeço na sua carreira. Como foi transformar um momento de fragilidade pessoal em música e, agora, compartilhar isso com o público?
Blue: Foi um processo longo e intenso, porque expor fragilidade nunca é simples, né? “Não ando muito bem” nasceu num período em que eu trabalhava como vendedora e, nas voltas pra casa, dentro do metrô, eu procurava músicas que me abraçassem, porque eu estava triste, sabe? Nessa busca, percebi que eu precisava escrever a música que eu gostaria de ouvir.

O clipe foi gravado de forma independente nas ruas e no metrô de São Paulo. O que essas locações representam dentro da sua trajetória e da mensagem que você queria passar?
Blue: Eu precisei me mudar pra São Paulo porque acreditava que lá minha vida de artista iria acontecer. Acabei morando por seis meses e vivi muito da cidade. Além disso, “Não ando muito bem” nasceu em São Paulo, então fez muito sentido gravar lá. A cidade representa essa mistura de sonho e solidão, de movimento e fuga. Era o cenário perfeito pra retratar a noite e essa tentativa de escapar, nem que por instantes, da própria realidade.
O clipe foi feito de forma totalmente independente pelos meus amigos de São Paulo — o Victor Lisboa assinou a direção e a fotografia, e o João Portugal foi o primeiro assistente de câmera.
Você já compôs para nomes como Glória Groove e Jade Baraldo. O que muda no processo criativo quando a música é para outro artista e quando é algo tão pessoal quanto esse novo EP?
Blue: Tive o privilégio de escrever pra artistas que admiro muito. A diferença é que, quando escrevo pra mim, o processo é bem mais delicado. Acho que sou muito crítica comigo mesma, e essa busca por algo que soe totalmente verdadeiro torna tudo mais lento e detalhista. Quando escrevo pra outros, existe uma liberdade de olhar de fora; mas quando é sobre mim, eu me cobro demais — o que, pensando bem, é algo que eu também faço na vida, né? Hahaha. Talvez nem sempre seja o melhor jeito, mas é o meu.
Um detalhe que chamou atenção foi a venda dos “Bluegadeiros” para viabilizar seus projetos. Como nasceu essa ideia e o que mais te surpreendeu na repercussão dessa ação?
Blue: Os bluegadeiros fazem parte da minha história. Eu vendi quando era adolescente pra pintar o cabelo de vermelho, pro desespero da minha mãe (risos). Vendi pra me mudar pra São Paulo, vendi em São Paulo… Então, quando decidi gravar meu clipe, pensei: “por que não vender brigadeiros de novo?”. Foi uma forma de resgatar essa parte de mim que sempre dá um jeito de transformar sonho em ação.
Seu som transita entre pop alternativo, indie, R&B e rock. Quais artistas ou referências você diria que mais influenciam sua identidade musical hoje?
Blue: Eu sou nascida e criada em Realengo, subúrbio do Rio de Janeiro. Cresci ouvindo gospel, pagode e funk, mas me identifiquei muito com o rock — talvez por causa da minha personalidade um pouco revoltada da estrela (risos). Hoje, minhas maiores referências são Nathy Peluso, Halsey, Hayley Williams e, posso dizer com tranquilidade, Alcione.
A cena independente costuma ser marcada por desafios, mas também por muita autenticidade. O que você acredita que diferencia o seu trabalho e te mantém firme nesse caminho?
Blue: A cena independente tem muitos desafios, principalmente pela falta de recursos. Como artista, eu queria poder entregar muito mais do que consigo, e não poder é frustrante. Mas, ao mesmo tempo, existe algo bonito nessa liberdade de não ter ninguém acima de você. Você cria do seu jeito, com verdade.
O que me mantém firme é uma frase que meu pai me disse uma vez: “Você vai conseguir ser o que eu não fui.” Além de ser o grande sonho da minha vida, essa frase carrega uma força que me move até hoje — por mais que muitas vezes, seja bem difícil.
Por fim, o que os fãs podem esperar do seu próximo EP? Alguma faixa ou conceito especial que você já pode adiantar?
Blue: Os fãs podem esperar muita sinceridade, cuidado e carinho. Esse EP nasceu de um lugar de vulnerabilidade. Ele veio no momento em que eu estava afastada da música, num tempo em que eu já nem sonhava tanto com ela. Foi um período de silêncio e reconstrução, que acabou me transformando profundamente.
Eu precisei me redescobrir longe daquilo que sempre me definiu, e foi justamente aí que voltei a entender por que eu amo fazer música. Foi um processo de dor, mas também de cura e amadurecimento. Eu espero que, ao ouvir, as pessoas se sintam abraçadas, mesmo que por alguns minutos. Que encontrem um espaço de respiro dentro do caos.
Pra mim, esse projeto é sobre aceitar as próprias falhas, dores e dilemas — sobre entender que errar faz parte, e que a gente não é definido pelos tropeços, mas por como escolhe continuar.



















































