O Festival do Rio deste ano se transforma em palco para um movimento que tem ganhado cada vez mais força no cinema mundial: atrizes que decidem sair da frente das câmeras para assumir a direção de suas próprias histórias. Na 27ª edição do evento, que começou nesta quinta-feira (2), nomes como Gloria Pires, Kristen Stewart, Juliette Binoche, Camila Márdila, Isis Broken e Tainá Müller apresentam seus trabalhos como cineastas e mostram que o desejo de contar histórias vai além da atuação.
A estreia de Gloria Pires na função é com a comédia romântica “Sexa”, na qual também atua como protagonista. Aos 62 anos, a atriz interpreta uma revisora literária de 60 que inicia um relacionamento com um homem mais jovem, vivido por Thiago Martins, e precisa enfrentar o julgamento da família e suas próprias inseguranças. A artista conta que a vontade de dirigir era antiga e encontrou nesse projeto o momento certo.

“A atriz cria de dentro para fora, enquanto a diretora precisa enxergar o todo, o ritmo e a harmonia. As duas funções se alimentam”, afirmou Gloria, que viu na experiência uma forma de ampliar sua relação com a narrativa.
Enquanto Gloria optou por atuar e dirigir ao mesmo tempo, Camila Márdila escolheu se manter atrás das câmeras em sua estreia com o curta “Sandra”. No filme, uma mulher recebe uma ligação misteriosa no quarto de hotel e percebe estar sendo observada, trama inspirada em um episódio vivido pela própria diretora em 2017. Conhecida por “Que horas ela volta?”, Camila diz que a decisão de não atuar no projeto foi intencional.
“Sempre quis dirigir sem estar em cena. Foi um jeito de descansar desse lugar e me dedicar à orquestração do coletivo”, explicou. Para ela, cada vez mais atrizes estão se voltando à criação como forma de desenvolver suas próprias oportunidades no audiovisual.
O festival também recebe a estreia de Juliette Binoche como cineasta. Em “In-I in motion”, a atriz francesa revisita sua performance artística de 2008 ao lado do dançarino Akram Khan. O documentário surgiu por incentivo do ator e diretor Robert Redford, que sugeriu transformar a experiência em filme.

Outro destaque da programação é “A cronologia da água”, primeiro longa dirigido por Kristen Stewart. A produção, exibida no Festival de Cannes, adapta as memórias de Lidia Yuknavitch e acompanha a trajetória de uma nadadora que enfrenta abusos, vício e a perda de um filho até encontrar sua voz por meio da escrita.
Stewart, que não aparece em cena, diz que queria se dedicar inteiramente à relação com a protagonista, interpretada por Imogen Poots.
“É mais divertido sermos espelhos um do outro do que apenas nos olharmos no espelho”, afirmou a atriz sobre a escolha.
Mulheres na direção
No campo do documentário, Isis Broken e Tainá Müller dividem a direção de “Apolo”, que narra a gestação do filho de Isis e do companheiro Lourenzo Gabriel, ambos trans. O filme aborda os desafios enfrentados pelo casal durante a gravidez, como o preconceito e a falta de preparo de profissionais de saúde.
“O audiovisual é uma ferramenta poderosa de transformação social, e contar essa história é uma forma de gerar um documento para que outras famílias não passem pelo mesmo”, disse Isis.
Já Tainá, que começou no audiovisual ainda jovem como assistente de direção e montadora, considera o projeto um retorno às origens. “Minha vontade autoral sempre existiu, mas ficou adormecida. Agora, posso retomar esse caminho”, afirmou.
Com produções que vão da comédia romântica ao documentário e da ficção literária ao relato autobiográfico, a presença dessas atrizes na direção reflete uma tendência crescente no cinema contemporâneo: a de artistas que buscam novos olhares e formas de expressão.
E no Festival do Rio, esse movimento encontra um espaço privilegiado para se consolidar e inspirar novas narrativas.
















































