Joe Ely, cantor, compositor e guitarrista texano que ajudou a moldar o country progressivo a partir dos anos 1970 e construiu uma carreira reverenciada por músicos de diferentes gerações, morreu na segunda-feira, aos 78 anos. Segundo comunicado de seu representante à revista Rolling Stone, Ely faleceu em casa, no Novo México, em decorrência de complicações da demência com corpos de Lewy, da doença de Parkinson e de uma pneumonia.
Figura central da música do Texas, Ely teve uma trajetória tão improvável quanto fascinante. Foi um dos fundadores do cultuado trio The Flatlanders, ao lado de Jimmie Dale Gilmore e Butch Hancock, grupo que gravou músicas nos anos 1970 que só seriam amplamente reconhecidas décadas depois. Entre um capítulo e outro da carreira musical, Ely chegou a se juntar ao circo Ringling Bros., onde cuidava de cavalos e quase foi pisoteado por uma fila de elefantes.

De volta à música, lançou seu primeiro álbum solo e, pouco depois, construiu uma amizade improvável com Joe Strummer e a banda britânica The Clash. O respeito foi mútuo: Ely abriu shows da turnê de London Calling e acabou eternizado na letra de “Sandinista!”, além de participar como backing vocal em “Should I Stay or Should I Go”.
“Eu cheguei até aqui. Quando estava no ensino médio, meus professores diziam que eu não passaria dos 21 anos”, afirmou Ely em entrevista à revista Lone Star Music, em 2011. “Viajei milhões de quilômetros, tentando ir de um lugar a outro para criar mais música.”
Nascido em 9 de fevereiro de 1947, em Amarillo, e criado em Lubbock, no oeste do Texas, Ely teve sua obra profundamente marcada pela paisagem, pelas estradas e pela cultura da região. Mesmo se tornando um nome associado à cena musical de Austin, ele sempre destacou suas raízes. “Sempre que começo um novo álbum, dirijo pelo oeste do Texas, por aquelas antigas estradas de algodão e pelos grandes espaços abertos”, contou à Texas Monthly.
Após circular por cidades como Los Angeles, Nova York e Austin, Ely se destacou na efervescente cena country progressiva dos anos 1970. Com o fim prematuro dos Flatlanders após o lançamento de All American Music (1973), ele seguiu carreira solo e lançou, em 1977, o álbum Joe Ely. No ano seguinte, veio Honky Tonk Masquerade, hoje considerado um clássico, que equilibrava baladas delicadas como “Because of the Wind” e canções vibrantes como “Boxcars”.
Embora admirado e respeitado, Ely nunca buscou o sucesso comercial fácil. Tornou-se um “artista de músicos”, influenciando gerações e conquistando fãs fiéis. “Tem um toque country do sul dos Estados Unidos, uma pitada de rockabilly, a profundidade de Johnny Cash e a autenticidade das raízes texanas”, disse Bruce Springsteen ao apresentá-lo no Hall da Fama do Austin City Limits, em 2016. Springsteen ainda dividiria o palco com Ely e gravaria a música “Odds of the Blues” para o álbum Driven to Drive, lançado em 2024.
Joe Ely deixa um legado singular: o de um artista que cruzou fronteiras entre gêneros, uniu o country ao rock e ao punk, e construiu uma obra tão livre quanto as estradas do oeste do Texas que tanto o inspiraram.














































