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Aquino e a Orquestra Invisível explora a pluralidade sonora em novo disco

Aquino e a Orquestra Invisível explora a pluralidade sonora em novo disco
Aquino e a Orquestra Invisível – Imagem: Divulgação

Todo e qualquer fazer artístico pode ser resumido pela imagem de uma tela em branco, prestes a ser pintada livremente por alguém. Na obra, o artista distribui formas e cores de forma a materializar o conceito desejado. No entanto, a banda carioca Aquino e a Orquestra Invisível foi além: usou como tela Os Prédios Cinzas e Brancos da Av. Maracanã, localização que dá nome ao seu colorido disco de estreia. São camadas de verde, azul, vermelho, marrom, rosa, violeta e mais, sob diferentes estéticas e temas que enriquecem o material. 

Os integrantes João Soto (vocais, baixo e teclado), João Vazquez (vocais e guitarra) e Leandro Bessa (vocais e bateria), todos moradores da Zona Norte da capital fluminense, não estão naturalmente inseridos no contexto de praias, turismo e curtição pela qual conhecemos a Zona Sul da cidade. Eles deixam isso claro no disco não apenas através do título, já que citam também outras paisagens urbanas mais reconhecidas pelo concreto do que pela areia, como o bairro do Grajaú ou até mesmo a movimentada Avenida Brasil. Mas, como bons artistas, eles coloriram com boa música os edifícios monocromáticos que ditaram sua visão durante anos. 

O álbum foi produzido, mixado e masterizado por Sidney Sohn Jr (indicado duas vezes ao Grammy Latino que já trabalhou com nomes como Pepeu Gomes, Zeca Pagodinho, Milton Nascimento, IZA e Rapadura) e apresenta-se como uma miscelânea de gêneros musicais, indo do indie ao axé, à MPB e ao experimental em questão de minutos. De referências, a banda usou pitadas de Los Hermanos, Rita Lee, Lô Borges, Letrux e mais, além de nomes internacionais como Fela Kuti e Mac DeMarco. Não à toa, os oito singles divulgados previamente tiveram suas capas em cores diferentes, enquanto as cinco inéditas também contribuem para essa extensa paleta.  É como se a banda estivesse montando um arco-íris, adicionando luzes diferentes que, tal como um prisma, juntam-se na cor branca, que é destaque na capa do álbum.

O conceito do disco se estende ainda na informação de que um apartamento em específico foi usado para a composição da maioria das músicas: o “302” (que dá nome ao primeiro single da banda). Todas as reflexões surgiram de lá. Com a pandemia do coronavírus, passamos a viver a maior parte do nosso tempo nesse lugar. É momento de refúgio, das ideias, do pior e do melhor do que há em cada um de nós. Na visão do baixista João Soto, “o que mais resume o disco é essa questão do confinamento, do apartamento, que é um lugar de confiança, mas que também se mostra sufocante”.

Isso faz com que as músicas, aparentemente pessoais, possam gerar ligações com qualquer pessoa. Afinal, as letras tratam de temas comuns e palatáveis a todos, com fácil potencial de ressignificação. Da mesma forma que transita entre gêneros musicais, o disco vai da curtição de uma boa festança à saudade e ao abandono. “O objetivo do álbum é que as pessoas se comovam e possam se identificar com cada mensagem e ideia que cada música passa”, conta o baterista Leandro Bessa.