Música

“Black Is King”: Historiadora branca que criticou Beyoncé pede desculpas e culpa Folha de S.Paulo

A historiadora branca Lilia Moritz Schwarcz, que criticou “Black Is King”, álbum visual de Beyoncé lançado na última sexta(31/7), alegando que a cantora errou ao “glamourizar negritude com estampa de oncinha”, veio à público pedir desculpas.

Em seu artigo publicado na Folha, a professora da Universidade de São Paulo (USP), diz que a cantora “precisa aprender” a fazer uma luta antirracista que não envolva “pompa” e “brilho”. O título do texto já começa apontando o possível “erro”, “Filme de Beyoncé erra ao glamourizar negritude com estampa de oncinha”, “Diva pop precisa entender que a luta antirracista não se faz só com pompa, artifício hollywoodiano, brilho e cristal”, continua.

No entanto, Lilia observa que “o vídeo chega em boa hora” e usa o assassinato de George Floyd como exemplo de que “não existe democracia com racismo” e, logo em seguida, critica a obra. “Não há como negar as qualidades de “Black Is King”. Mas, como nada na obra de Beyoncé cabe apenas numa caixinha, causa estranheza, nesses tempos agitados do presente, que a cantora recorra a imagens tão estereotipadas e crie uma África caricata e perdida no tempo das savanas isoladas.”

Após a repercussão negativa, ela se retratou hoje (04/8) em novo post no Instagram, mas pôs a culpa na Folha de SP pelo título e subtítulo da matéria.

“Passei as última 48 horas praticando a escuta. Conversei com pessoas amigas e críticas, e rascunhei essa mensagem inúmeras vezes. Não deveria ter aceito o convite da Folha, a despeito de apreciar muito o trabalho de Beyoncé; seria melhor uma analista ou um analista negro estudiosos dos temas e questões que a cantora e o filme abordam. Ao aceitar, não deveria ter concordado com o prazo curto que atropela a reflexão mais sedimentada. Deveria também ter passado o artigo para colegas opinarem. Não ter dúvidas é ato de soberba. Também não deveria ter escrito aquele final; era irônico e aprendi que é melhor dizer, com respeito, do que insinuar. A primeira parte do artigo eleva a obra de Beyoncé, o que não é favor algum: trata-se de uma celebração da experiência negra realizada por uma das maiores artistas do nosso tempo. Apesar da minha carreira na área, não se está imune à dimensão do racismo estrutural e da branquitude. Errei e peço desculpas aos feminismos negros e aos movimentos negros com os quais desenvolvi, julgo eu, uma relação como aliada da causa antirracista. Assumo a minha responsabilidade pelo artigo e não pretendo vencer qualquer discussão. Quando uma situação dessas se monta, todos perdem; tenho consciência”, disse.

“Penso que a Folha de S Paulo deveria assumir sua responsabilidade, também, pois é de sua editoria o título e o subtítulo que não usam minhas palavras. Não falo em “erro”, tampouco que Beyoncé “precisa entender” ou que usa “artifício holliwodyanno” no meu artigo. Agradeço, assim, aos que fizeram críticas construtivas, sigo aprendendo com elas”, finaliza.