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Entrevista: Lubo fala sobre álbum auto intitulado

O álbum contem 9 faixas que celebram e festejam a feminilidade e os saberes femininos.

Entrevista: Lubo fala sobre álbum auto intitulado

Muitas experiências e influências podem inspirar um produtor artístico. Aqui, o processo se dá por meio de transições profissionais e perdas pessoais vividas por Lubo, que embarcou numa jornada de autoconhecimento espiritual a partir de 2016. O resultado são faixas femininas e mântricas, com pitadas de rock, sonoridades africanas e riffs orientais.

Veja abaixo a entrevista completa com a Lubo:

1 – Como é pra você Independente lançar um álbum completo no mercado de hoje em dia? Ainda mais com uma música tanto quanto experimental.

R: Pra mim, lançar um álbum é o resultado de muitas jornadas artísticas e mergulhos internos. Tenho 20 anos de carreira e já vivi muitas coisas no meio artístico. Já estive em lugares incríveis e já me frustrei muito também. Acho que a maioria dos artistas vive nessa montanha-russa. Em determinado momento da minha vida, isso começou a pesar. Essas incertezas e minha falta de confiança nas minhas escolhas foram me levando pra um abismo. Eu me sentia sem lugar para me expressar verdadeiramente, mas eu também não sabia direito o que eu queria falar. Então, eu fui atrás de me conhecer pra saber o que, afinal, seria esse florescimento artístico e espiritual que iria me deixar feliz apenas por fazer o que deveria ser feito. E vivi muitas coisas nesses últimos sete anos. Coisas que me fizeram acordar para a minha verdadeira natureza. A artista que eu sou se conecta intimamente com a buscadora que eu sou. Esse álbum é o meu florescimento. Uma integração das potências que sinto em mim. Eu me sinto muito feliz por poder falar o que acredito, por ter feito parcerias certeiras, por ter 38 anos e conseguir me lançar no mercado musical, me reinventando e trazendo novidade pras pessoas e pra mim. O que as minhas músicas trazem se relaciona com a esperança, com o amor à vida, com a valorização da nossa jornada enquanto seres humanos, trazendo a ancestralidade como nossa pedra preciosa do futuro. O experimental que você sente com a minha música é porque eu quis ser original, eu e meu produtor Fabio Pinczowski tivemos o cuidado de trazer referências que se conectassem com a minha jornada e com a essência de cada história contada através das músicas. O que eu espero é que as pessoas sintam a dimensão musical expandida que criamos e que nos levam a muitos mundos. Que o público possa se curar, sonhar, meditar, dançar, exorcizar, poetizar a vida com minhas músicas. É isso que espero. Descobri essa potência na música e sei que é só o início do caminho. Mas estou muito feliz por dar cada passo, porque estou fazendo o que acredito. Isso já é uma grande coisa no meio de um capitalismo que nos empurra para uma produtividade absurda onde nossa criatividade é usada para criarmos conteúdos rasos e compulsórios a fim de não sermos esquecidos pelo algoritmo. Então, me sinto vitoriosa por poder manifestar uma coisa tão verdadeira e profunda nesse agora.

2 – Nesse trabalho você teve contato com profissionais de ótima assinatura como Maria Alice. Como foi a troca com ela em “mulher oceânica”?

R: A Mazinha é uma profissional que fiquei apaixonada desde o primeiro dia. Trabalhar com ela foi um sonho, sério. Meu coreógrafo, Gabriel Malo me disse que nunca se sentiu tão respeitado num set. Como o clipe era de dança, muitas vezes a gente tinha que parar para tomar uma água, secar o suor e ela sempre esteve muito preocupada com isso, com o nosso bem estar. Eu, ela e o Malo criamos um roteiro que agradasse a nós três e ela foi de uma generosidade sem fim. Uma escuta incrível e uma firmeza no olhar que nos passava total segurança quanto ao resultado. A equipe de luz, o diretor de fotografia Daniel Belinky e todo mundo que ela contratou também foram preciosos para o trabalho e estavam lá por causa dela. Ela é uma pessoa que todo mundo quer estar perto. Eu admiro demais o caminho dela como diretora, como artista e a pessoa que ela é. Espero que possamos trabalhar juntas novamente num futuro breve.

3 – A dança e as artes visuais estão sempre ligadas com o seu trabalho de forma muito. é correto afirmar isso? de onde vem essa ligação?

R: Eu danço desde os 5 anos de idade. Minha infância e adolescência foram recheadas de muito ballet, jazz, sapateado e dança contemporânea. Depois enveredei pelos musicais e continuei dançando muito. A dança é minha base, meu primeiro talento, um amor na minha vida. E sobre as artes visuais… é uma coisa que sempre me acompanhou também. Sempre fui muito estética, quando criança eu desenhava muito e queria ser diferente. Gosto de ser diferente, de inovar nas imagens de mim mesma e do mundo. Me considero metamórfica, estou sempre mudando e experimentando estéticas.
Durante a pandemia, eu e meu companheiro Fernando Marianno exploramos bastante o audiovisual para criarmos curtas referentes aos meus estudos com o livro “mulheres que correm com os lobos” de Clarissa Pinkola Estés, criamos uma série chamada SELVAGEM (disponível no Youtube) e percebi o poder de contar histórias através das imagens. Quando pensei em fazer um álbum musical, eu já sabia que a estética do show e dos trabalhos em audiovisual que acompanhariam esse projeto seriam tão importantes quanto as músicas. O fato de eu também ser atriz e bailarina trazem para a cantora que sou uma assinatura e expande minhas possibilidades.

4 – Qual a principal mensagem que você queria passar com lançamento do álbum “Lubo” e nesse no último lançamento audiovisual?

R: Quero que as pessoas se sintam inspiradas, que acreditem na vida, acreditem nelas mesmas, que cultivem o que é naturalmente sagrado, que possam se permitir sonhar e também agir. A última música do disco, Apocalipse, fala: “quero amor, eu quero ação” mas pra isso é preciso mergulhar-se, conhecer-se o suficiente para ter coragem de agir a favor de si e de todes. Por isso começo o disco com “Mulher Oceânica”, a música desse primeiro clipe, esse mergulho da pele pra dentro, nas profundezas do ser, para reconhecermos que tudo está dentro da gente, e termino com Apocalipse pra que a gente saia do individualismo doente e consiga trabalhar para algo que esteja a serviço de todes.