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CRÍTICA | “Bacurau” leva inovação e faroeste para o sertão em uma declaração de amor ao Nordeste com pegada política

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Tive o privilégio de conferir o”Bacurau”, um thriller de ação ambientado bem no meio do sertão nordestino. Não há nada mais peculiar, mas tão normal ao mesmo tempo que o coronelismo real que ainda assola a região. Talvez o fator tenha potencializado a qualidade da produção.

Já adianto que fui sabendo que o filme é o vencedor do 72° Festival de Cannes e que conta com a participação de grandes nomes do cinema nacional e internacional. Cheguei com baixa expectativa, mas foi bom, já que isso contribuiu para minha análise.

Antes de mais nada Bacurau é um povoado que fica na cidade fictícia de Serra Verde localizado no Sertão do Seridó.

Mas Luan, o que significa essa palavra tão engraçada?

Calma jovem, fui criado no interior e conheço bem esses “dizeres”. Bacurau nada mais é que uma ave de hábitos noturnos. Frequentemente chamamos assim algumas pessoas que têm costume de sair apenas à noite e vendo que o povo do filme simplesmente não dorme acho bastante válido para o nome do vilarejo. Plena 23:59 tem criança brincando no meio da rua, cadê os pais dessas crianças? Depois não chore, caso algo de ruim aconteça com uma delas.

Pois bem vamos começar pelos pontos negativos que achei do filme:  As primeiras cenas se passam dentro de um caminhão pipa, nela somos apresentados a dois dos personagens principais para trama que é Teresa (Barbara Cohen), que retorna ao vilarejo depois de anos morando longe, e o motorista do caminhão pipa é claro, Erivaldo (Rubens Santos). É aí que acontece a introdução da história, onde é falado um pouco do drama do sertão e mencionado outros personagens, no entanto o áudio externo está muito alto de forma com que dificulta entender sobre o que os personagens estão falando e sim, o que eles falam é bem importante para narrativa
para fazer com que o espectador entenda o filme.

Claramente são atores

A atuação também de alguns personagens deixa a desejar – Ah Luan, mas você tem que considerar que usaram uma população local e que não são atores de verdade – Isso eu tolero, mas não posso deixar passar que alguns dos personagens principais algumas vezes são inexpressivos! Não passam emoção ou drama ou a sensação de realmente estarem vivendo ou sentindo aquilo que estão falando ao ponto de deixar bem claro que o texto ali foi decorado.

Misturada de Vários Estilos

Quando eu li que o filme misturava faroeste, suspense e ficção científica eu fique meio pé atrás, e
realmente fiz bem. Não entendam mal a proposta de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles é bem ousada
e digo até que original, mas, talvez, se eles tivesse dosado a ousadia um puco menos, teriam uma obra melhor e ainda mais original.

Os atores internacionais dão um ar  “hollywoodiano” em suas cenas o que pra mim quebra um pouco da dinâmica de um filme nacional, mas acredito que muita gente irá gostar dessa quebra.

Você que está lendo isso pode estar pensando que tudo isso é papo de um crítico chato, e você pode até estar certo, afinal o longa é o vencedor de 72° Festival de Cannes e tem muitos pontos fortes que irei falar agora.

A Direção de fotografia de Pedro Sotero e a direção de arte de Thales Junqueira estão de parabéns! As imagens são lindas, as transições usando paisagens são belíssimas, não tenho muito o que dizer mais sobre esse belo trabalho da equipe.

Atuação impecável

Se por um lado eu falei que alguns atores não parecem dar vida aos personagens informo que isso não acontece com Lunga (Silvero Pereira). Ele é altamente expressivo em seu personagem ao ponto de parecer que nasceu pra fazer esse papel, o estilo de justiceiro anti-herói é repassado muito bem por Silvero e guardem esse nome pois acredito que ainda vão ver muito o rosto dele nos cinemas.

O Violeiro Gaiato

Uma das cenas que mais me chamou a atenção foi a que um morador chega a dois forasteiros e faz uma cantoria, o gaiato da vila da um humor regionalista e tão original e convincente que adoraria ter visto mais vezes no filme narrando os acontecimentos em suas canções.

Conclusão

Eu poderia falar facilmente de outros pontos fortes e fracos mas acabaria por dar Spoiler, o resumo da obra é que é um bom filme, tenta ser ousado de mais e acaba pecando no excesso, mas ainda assim funciona. Sabendo que ele demorou quase 10 anos até a finalização acredito que poderiam ter lapidado melhor o roteiro, por mais que descreva alguns dos aspectos brasileiros vividos no cotidiano como uma politica suja e xenofóbica.

Se você curte filmes nacionais, essa é uma obra que você tem que você precisa conferir, até aqueles que não apreciam tanto as produções brasileiras irão dar o braço a torcer e curtir o filme.

Bom é isso galera, o filme estreia hoje (29/8) nos cinemas. Vou deixar vocês com o trailer:

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